Contos, crônicas e novelas.
sábado, dezembro 27, 2008
Dr. Rodenti
domingo, dezembro 14, 2008
Gomorra, Periferia e Sardela
Desde criança me sinto atraído por filmes sobre gangster e máfia. Um em particular marcou minha adolescência, Era uma vez na América, de Sergio Leone. Daria ainda para listar outros: Scarface, de Brian de Palma; Os Bons Companheiros, do Scorsese. Dele tenho uma admiração por Taxi Driver, um filme especialmente louco.
Recentemente assisti algo diferente, que mudou minha noção sobre máfia e afins. Confesso que pouco sei sobre como as coisas andam por lá, na Itália, ou como tudo começou. Quando penso sobre isso, sou – e acredito que a maioria de nós – sempre influenciado pelos blockbusters hollywoodianos.
O filme começa num salão de beleza. Onde todos são aparentemente grandes amigos. Corpos se bronzeando, unhas sendo cuidadas. A vaidade é interrompida com tiros secos, sem silenciador, ainda com o sorriso no rosto. Pow! Pow! Pow! e os corpos já estão no chão. A música, um pop dançante que nós brazucas chamamos de brega, é de um cantor nascido em Nápoles, terra que tem outra filha ilustre, a Camorra.
Já tinha ouvido falar sobre a Camorra, mas nunca tinha me interessado em saber sobre ela. O filme de Matteo Garrone, por mais que seja um drama ficcional, foi roteirizado com base num livro de raízes jornalísticas e tem atores não profissionais da própria região, como Fernando Meirelles fez em Cidade de Deus, por isso tem um tom quase documental. Um pormenor pessoal é que o filme colocou por água abaixo a glamorização imagética dos mafiosos da minha adolescência.
Gomorra é um retrato realista e anti-herói da Camorra, cujo os tentátulos espalham-se pela sociedade italiana em um misto de atividades suspeitas e ilegais. Mostra a estruturação da organização e seus sustentáculos de familiares que mantém negócios lícitos, como o dono de uma fábrica de alta-costura que é financiado pelos criminosos, e ilícitos, como o controle do tráfico de drogas e aterros de lixo industrial. Foi baseado no livro de Roberto Saviano, um jovem jornalista e escritor, também de Nápoles, que anda com escolta armada desde 2006 por causa das ameaças de morte.
Não foi o exótico que me atraiu no filme, nem o glamour. Porque não há romantização. Aquilo que me atraiu foram as possíveis aproximações e diferenças com a realidade que conhecemos no Brasil. Aliás, nunca tinha visto um filme de máfia que ficasse ecoando nossos próprios problemas tupiniquins.
Os badaladíssimos Cidade de Deus e Tropa de Elite são da mesma linhagem: ficções baseadas em livros que retratam histórias de comunidades que convivem com criminosos e autores que foram parte integrante da realidade da qual escrevem. Saviano é jornalista, da região, então dá para dizer que ele meio que está falando da sua própria casa. Li que ele infiltrou-se por anos na Camorra e fez bem o dever de casa do jornalismo investigativo.
Se permitem-me fazer uma comparação – e podem discordar se quiserem – na periferia de Nápoles, em Gomorra, assim como no Rio de Janeiro, as crianças ficam maravilhadas com a força que os integrantes de grupos criminosos têm na comunidade. São detentores de um prestígio, mantido na base do medo, e controlam a região em família. Claro que, em qualquer lugar do mundo onde há a ausência de poder público, facções criminosas surgem para preencher esse vazio deixado pelo Estado. Ou elas tornam-se parte do próprio Estado, como o Hamas. Isso deveria ser mais desenvolvido, eu sei, porque o Hamas tem originalmente raízes na resistência Palestina. Seria uma grande cruzada me aventurar nessa comparação. Mas, não agora.
Apesar de nas favelas cariocas, ou em qualquer favela brasileira, o crime não ser exatamente controlado por famílias durante anos e anos, as relações sociais que eles mantêm são baseadas na união e irmandade, onde o respeito hierárquico é similar como na máfia napolitana. Claro que em guardadas proporções. Acho que Cidade de Deus, apesar de propagandístico, mostrou um pouco isso.
Gomorra tem uma fotografia bem crua. Precisa e direta algumas vezes, como no contra-luz do diálogo entre Ciro e a mãe de um garoto que mudou de lado e sente-se ameaçada. Filmado em closepróximo à janela de um dos cômodos desses apartamentos populares, que conhecemos bem. Tem a dramaticidade que a situação pede. Outras vezes é bem aberta e areja o olhar com uma beleza geométrica e plástica. Com sequências de pans e pontos de vista passeamos de carro, moto ou a pé pelo vasto cenário de abandono e vazio da província napolitana. Com certeza, sem a estética de fotografia de turismo, nem de clip MTV, que seria um caminho fácil para agradar a massa de jovens espectadores que passam os fins de semanas nos Shopping Centers.
Garrone passeia com a câmera tensa e realista na nuca dos personagens. Não é nada novo, mas foi bem aplicada. Finalmente um filme sobre máfia sem charutos, chapéus e gelo seco saindo pelas bocas de lobo. Os chefões andam sem camisa, de bermudas e chinelos. Usam anéis e correntes pesadas. Alguns têm tatuagens de prisão, daquelas tipo Amy Winehouse. Empunham armas. São sórdidos como qualquer criminoso. Alguma semelhança com os criminosos que controlam as periferias brasileiras é mera coincidência.
Na Camorra, os mafiosos que controlam os aterro de lixo industrial estão lidando diretamente com normas e leis estipuladas pela União Europeia, assim fica subentendido, e isso é que é assustador, a profundidade das influências na esfera política, seja pela ameaça ou pela corrupção. Isso também acontece no Rio, onde as comunidades transformam-se, muitas vezes, em currais eleitorais, nos quais os traficantes forçam a eleição de determinados candidatos para dar continuidade às relações estreitas que mantêm com o poder público. Isso já se conhece e como disse ironicamente o mestre Geraldo Pereira: “carne de vaca no açougue é mato”. Na última eleição tivemos até teatrinho militar para garantir a segurança e o voto limpo. Será?
Há cerca de dois meses li que a Camorra declarou “guerra contra Itália”, segundo o Ministro do Interior italiano, Roberto Maroni. Seus integrantes estão eliminando qualquer tipo de oposição ao poder que exercem nas comunidades que controlam. Para dizer que não é brincadeira, assassinaram juízes e integrantes de facções de imigrantes, em sua maioria provenientes de países africanos. O governo italiano já demonstrou que está tentando atuar mais fortemente no controle da região, mas nenhuma força policial parece resolver quando o problema é uma cultura de anos e anos na forma de fazer negócios, de corrupção, lavagem de dinheiro e tráfico. Novamente, qualquer semelhança com nossa realidade brazuca é mera coincidência.
Em relação aos mais jovens, nos morros do Rio parece falar mais alto a completa falta de opção que o meio em que vivem pode oferecer, por isso fazer parte de grupos criminosos significa ter mais visibilidade, prestígio e o dinheiro que a civilização do capitalismo moderno não consegue oferecer-lhes. Coisas que os Racionais já falaram bastante.
Mas, na Camorra não é somente isso. É também ser parte de uma família, um determinado clã, um grupo social, onde o sobrenome tem o peso determinante. Os personagens parecem estar a procura do seu espaço ou fazem de tudo para garantir e ampliar o espaço já conquistado. Somente desta forma sentem-se parte de algo grande, algo que oferece-lhes uma identidade, principalmente.
Há uma passagem interessante no filme que mostra o oposto disso. O funcionário de um mafioso não consegue aceitar fazer parte dos negócios ilícitos e sente-se moralmente afetado. Pede para sair. Ele não é parte da família, é uma pessoa na qual o mafioso via um futuro profissional e deu-lhe um emprego. Para ele, sem relação familiar, sem o peso cultural diretamente relacionado, não houve uma identificação. Nesta cena há um simbolismo da relação do fruto com a terra muito interessante. Com esses pormenores que o filme ganha seus contornos subjetivos. Quem já viu sabe do que estou falando.
A cultura italiana está muito embutida na nossa cultura. Quem já não foi obrigado a ler Brás, Bexiga e Barra Funda, de Alcântara Machado? Lá ele escreve: "Este livro não nasceu livro: nasceu jornal. Estes contos não nasceram contos: nasceram notícias. E este prefácio portanto também não nasceu prefácio: nasceu artigo de fundo". Em Gomorra tive a sensação de que Garrone estava repetindo isso a cada cena, a cada inter-relação das histórias que filma. O problema do filme é a difícil tarefa de retratar mais de 300 páginas do livro de Saviano. E claro, a síntese cinematográfica, em termos de conteúdo, não ajuda. A narrativa das histórias, que vão se correspondendo, parece dispersa e fica às vezes confusa com muita informação. Mas não deixa o filme difícil.
Em termos metafóricos, de quem conviveu com descendentes italianos no cruzamento do Bom Retiro com a Barra Funda e perdeu a conta das vezes que enfrentou as filas da Festa da Achiropita para comer sardela, fogazza e polenta frita, fica a impressão, ao terminar o filme, de ter cruzado com uma Ferrari sem motor, com estofamento rasgado, com a pintura vermelha desbotada, com as rodas roubadas, abandonada num terreno qualquer da Brasilândia. Rodeada de mato e lixo. Sabemos que é uma Ferrari, mas não é como estamos habituados a ver.
Gomorra é um recorte muito preciso, com uma mão que sabe onde pressionar. Sem dramas psicológicos profundos. Um drama sem as estilizações de Cidade de Deus. Sem heróis. Sem histórias de amor. Ok, tem o amor de mãe, mas sutil, sem catarses e choramingos. Uma Itália, por exemplo, diferente da filmada por Silvio Soldini, no saboroso Pão e Tulipas. Um outro ponto de vista, talvez mais próximo daquilo que afeta os italianos no dia-a-dia, nos noticiários locais. Social, economica e culturalmente.
Soube que o filme passou pelo Brasil na 32ª Mostra Internacional de Cinema, em Outubro, e que deve estrear por aí até meados de Dezembro. Aqui no Porto, estreou há poucas semanas, mas já saiu de cartaz. E acreditem, não é nada fácil achar uma cantina italiana por aqui, não como as do Bexiga. Então, qualquer tentativa de insinuar que a máfia pode estar envolvida é mera teoria da conspiração.
Por Keiny Andrade
segunda-feira, dezembro 01, 2008
Keiny Ensaia Sobre a Cegueira
Enfim fui ver o aclamado Ensaio Sobre a Cegueira. Não sei dizer se gostei do filme. Há coisas interessantes e outras não, são como deslizes que a experiente equipe de Fernando Meirelles não conseguiu ver.
Vamos começar pelo ponto que achei interessante. O filme é fiel à essência daquilo que Saramago procurou demonstrar no livro. Não sei se Saramago quis evocar um apocalipse hobbesniano, isso me soou como oportunismo crítico de plantão, para deixar de lado os deslizes estéticos do filme e focar em teorias sociológicas. Pura preguiça da dita crítica especializada.
Li diversas críticas nas quais os autores pareciam retirar da gaveta empoeirada os anos de estudos de pós-graduação para mostrar uma análise inteligente e filosófica. Mero pedantismo conteudista. Olha, nada contra isso, mas poucos conseguiram falar do básico: analisar como o filme, no seu conjunto de imagens, diálogos, luz, fluidez, sons, constitui-se como obra. É aí que vejo os deslizes.
Alguns críticos insistem em chamar os filmes do Meirelles de "filme de autor". Com Ensaio foi a mesma coisa. Em qual filme dito de autor o símbolo da Volkswagen é esfregado na nossa cara logo na primeira cena? Digo mais, quem leu e acompanhou na imprensa o pré-lançamento do filme, o blog do diretor, sabe que o próprio Meirelles declarou que fez concessões para se entender com os produtores. Meirelles fez sessões teste para ver qual a reação do público, como era para agradar a todos, teve de "suavizar". Opa, vamos continuar insistindo que Ensaio é filme de autor? Para mim, não é, e Meirelles não é esse tipo de cineasta. Ele pode agir assim, ter essa intenção, porque é uma pessoa sensível e institiva, mas entre ter a intenção e realizar há uma leve diferença. No fim ele teve de fazer concessões para apaguizar os "outros realizadores" e não sair da boa fatia do mercado internacional de diretores que ele conquistou. Andrei Tarkovski deve estar se revirando no caixão por essas bobagens.
Vamos lá, deixa eu falar daquilo que interessa. Ensaio é confuso. Não porque uma sociedade que perca a racionalidade tem de ser confusa. O conjunto de imagem não flui com a simplicidade que Meirelles desejou. Após a apresentação em Cannes, o diretor mexeu no filme, tirou, acrescentou cenas, encurtou falas, e declarou “ficou mais simples”. Não tem nada de simples e, em certo ponto, é até pretencioso demais. As cenas fora, na cidade já destruída, são tão perfeitas, preparadas, arrumadas para estetizar o caos que irritam. É um misto de falsa fantasia caótica, cores pálidas e publicidade de automóvel. Faltou passar um NewBeetle e estaria como num comercial.
Há coisas inexplicáveis e fora de contexto no filme, como a câmera que dá o ponto de vista da bengala dos cegos. Ela surge do nada e vai embora do nada. Não há a mínima conexão com a narrativa, não lhe acrescenta nada. É apenas uma grande angular para impressionar. Não faz sentido. Outro exagero que Meirelles percebeu, e também alterou após Cannes, é que a narração de Dany Glover estava explicando demais o filme. Eu, particularmente, fico com pé atrás com filmes que se auto-explicam. Para evitar isso poderia ter investido mais minutos nas cenas fora, do começo, de como o Estado lidou com a situação e entrou ele mesmo num caos. Quando acontece o início das explicações, aparece o Glover ouvindo uma estação de rádio em português? Hã? Era para ter uma mensagem qualquer aí? Saramago, literatura portuguesa? Era isso? Tudo bem, a fotografia tem alguns méritos, mas abusou demais do desfoque. E por outro lado, tinha momentos tão polidos que não fazia sentido com o resto, principalmente quando todas as técnicas e artifícios para causar a sensação de cegueira praticamente somem quando os personagens são libertados. Poderiam continuar, digo, essas cenas de vultos e brancos estourados, que o diretor usa e abusa, poderiam seguir na segunda parte do filme, já na cidade, de alguma forma, para dar continuidade à sensação de caos interno. Sem isso, a fotografia parece não ter conexão de uma parte com a outra, a não ser pela palidez. Meirelles optou pelas representações miméticas. Se o filme tivesse usado uma fotografia mais dura, com mais tensão nos enquadramentos e desfoque nas cenas da cidade talvez teria resultado numa conexão com o caos interno das pessoas, com a parte do manicômio (90% do filme) e o mundo do lado de fora. Mas sua fórmula foi clichê: trânsito e impaciência (na primeira parte), lixo, mortos, gente desorientada andando pelas ruas (na segunda parte).
Na cena de sexo entre o oftalmologista e a prostituta de luxo, que já havia sido anunciada antes numa outra cena – não entendo porque tanta obviedade – Meirelles se repetiu. Meu amigo Rodrigo Dionísio [1] gostou da forma como foi filmada, diga-se de passagem, e concordo. Mas, ele usou a mesma fórmula da cena de sexo usada em O Jardineiro Fiel. Sexo no branco. É poética. Mas, para mim, isso é apostar em fórmulas, um lapso de criatividade. No ato de criação artística, padronizar pode ser um problema.Aliás, tudo parece tantar ser criativo demais, bem sacado demais, usando fórmulas já testadas pelo próprio Meirelles ou pelo cinema. Assim é mais fácil não errar, certo? Na cena de Julianne Moore no mercado, quando ela desce ao depósito e enfim fica cega porque está tudo escuro (uau!!), ela pega um salame e devora-o exageradamente. Desculpem-me se perdi alguma coisa, mas não tinha percebido que eles estavam fisica e mentalmente com fome pelos traços deixados nas suas atuações. A fome, exagerada na cena, não é construída ao longo do filme no comportamento dos personagens, vem apenas pelos diálogos. O exagero dela é reflexo, de como disse um amigo, da mão pesada de Meirelles.
A cena dos cachorros comendo um corpo na rua poderia ser uma grande homenagem ao Zé do Caixão, cineasta deixado no limbo do cinema nacional por anos que ressurgiu recentemente, chocando sempre com seu estilo ímpar, sem concessões. Mas, Meirelles teve de suavizar. E como, nas cenas de rua, o tratamento de cores é carregado e usam esses artifícios que deixam a fotografia com o falso ar de surreal, essas partes ficam mais parecidas com comerciais de produtos sofisticados.
Nada contra tentar criar sensações usando cores pálidas, mas nas cenas de rua de Ensaio, a forma de filmar e a direção de personagens são incoerentes com essa estética. Acho que já vimos muita coisa para cair nessas armadilhas e ficar espalhando por aí que isso é uma sacada genial. Falta alguma ousadia, alguma forma de dirigir os cortes, enquadramentos, que fossem coerentes com a luz e as cores escolhidas. Como ele conseguiu na maioria das cenas internas.
Sobre usar luz estourada, brancura, em fotografia de cinema veja "Cinema, Aspirinas e Urubus", de Marcelo Gomes. A história, brevemente falando, fala de um europeu vagando pelo sertão nordestino. Tudo é estourado porque os olhos claros do personagem (sei disso porque minha mulher tem olhos claros e sempre reclama) são sensíveis à luz intensa do sertão. Isso no filme é um fio condutor, o mesmo que Meirelles e seu diretor de fotografia, César Charlone, tentaram fazer, e fizeram bem em algumas partes, mas tenho dúvidas, como disse, se acertaram em outras. Algumas cenas estão escuras demais, como os estupros. Apenas para suavizar e não chocar o público em geral? Quando há o sexo consentido como no caso do doutor e Alice Braga é tudo branco? E quando há o estupro é tudo preto? Soluções fáceis, nada genial como andam dizendo por aí.
Em Irreversível, de Gaspar Noé, o espectador é duramente incomodado desde o começo, por isso a cena do estupro faz sentido, tanto dentro do que representa o persongem que o faz, como na narrativa na qual o filme é fotografado. Mas, claro, isso choca as pessoas e para um filme com pretensão de grandes bilheterias não é nada bom.
Ensaio é, como disseram alguns críticos, "entretenimento popular". Ou eu diria, a suavização e estetização do caos. Então vamos parar com esse discurso de "genialidade", "obra de arte" e "filme de autor". Para quem gosta, compre sua pipoca e vá ver o filme. Vale a diversão. E se se sentir afetado, perca seu tempo discutindo sobre a falta de moral e racionalidade num Estado caótico. Quer mesmo discutir nossa loucura? Veja Os Idiotas, de Lars von Trier. E convenhamos, já não somos caóticos o bastante para discutirmos sobre isso diariamente?
Para mim, conteúdo só funciona com a forma coerente, do começo ao fim. Digam o que quiser de "Tropa de Elite", mas José Padilha filmou de uma maneira muito precisa, com a fotografia fazendo sentido com o conteúdo, em todos os aspectos. Sua luz, sua forma de andar com a câmera entre os personagens são contundentes com todo o conteúdo da história. Quem quiser saber mais sobre isso visite as obras de Lars von Trier, principalmente Dogville, uma obra que mistura com maestria forma e conteúdo. Outra é O Rolo Compressor e o Violinista, de Andrei Tarkovski. Outra? Three Times, de Hou Hsiao Hsien. O resto é bobagem, pretencionismo e puro delírio estético. Ou, como já disse, diversão.
[1] O jornalista Rodrigo Dionísio escreve no blog Haja Saco.