Contos, crônicas e novelas.

quinta-feira, março 22, 2007

Pai de Familia - Primeira parte


Nossa vida interior tende a inércia. E bem-vinda é a provocação que lhe avive a sensibilidade, impelindo-a aos devaneios que formam uma crônica particular do homem passada muitas vezes dentro dele, somente, mas compensando em variedade ou em profundeza o medíocre da vida social.

Carlos Drummond de Andrade


O menino quando crescer vai tocar sanfona lá no Largo. Vamos poder... Nô, cobre ele que ele tá com jeito de frio. Olha a cara disso. Cobre, vai. Ela tem cheiro de sabonete. Até as putas têm cheiro de perfume. Vou arranjar um perfume de presente, no dia 5. Se essa lata-velha não ajudar a gente não chega lá amanhã, né, doce? Pois é. Aquele sabonete verde. Incomoda, mais ou menos. Preferia o rosa. É esse o problema, vê? Fica parando em todos os lugares, pegando todo mundo. Não parece tomar um rumo e ir, sabe? Uma coisa que cansa demais. Sorte do menino que nem percebe. Olha só, dorme como um bezerrinho. Vou te falar, Nô, eu quero que ele seja sanfoneiro quando ficar maior. Você gosta? Gosta. Sabia que ia gostar. Não ia ser bom? A gente ia poder ver ele como se nem fosse nosso filho só. Mas um artista. Logo que a gente chegar eu quero que ele ouça bem o radio e vá pegando a manha, de ouvido. Você sabe que eu tenho esse jeito, vamos ver se ele tem também, né? Vai ter que ter. É bom pensar logo nessas coisas. Será que minha mãe pensou nisso pra mim? Coitada. Mas, ah, se pensou e não deu certo, tá tudo bom pra ela. Nunca vai dizer nada. Tão boa comigo. Eu também não quero que isso seja uma ordem. Eu vou só falar pra ele que a gente ia gostar demais se ele virasse sanfoneiro. Porque, Nô, esse trequinho aí vai crescer e vai ter que se virar. Eu sei que demora. Nossa, mas o tempo tá corrido demais. Eu vejo que não dá mais tempo pra pensar em tudo. E nem tem como resolver isso. Acho que ta fazendo falta dividir um pouco, como antes, mas a Nô, é mãe agora. E... Eu agüento, meu Deus, pra que reclamar. A gente vai aos poucos. Precisa arrumar as coisas com paciência. A casa, vamos no banco. E vai dar certo, não tem por onde. E vamos conseguir falar com o Célio sobre o emprego dela. Ia dar uma boa ajudada. Depois de amanhã eu começo direito. Planejando tudo. Certo ou errado, tem que ser do jeito que a gente acha que tem que ser. Ficar ouvindo os outros não é bom. A Cristina fala demais e não tem como confiar nela. Vou te fazer isso, te trago tal coisa. Pensa que é brincadeira. Que a gente é criança, tá brincando. Ela ainda vai precisar da gente. Mas eu ajudo, eu sei que eu ajudo. Vai parar? De novo? Eu vou descer, você fica? Lhe trago alguma coisa. E pra ele. Bala não é bom. Uma paçoca. Vai acordar com fome, mas só vamos comer mesmo quando chegar. Uma paçoca dá, e diverte. Se ficar enjoado aqui vai atrapalhar os outros. Licença. Obrigado. Isso tá com cara de motel. O banheiro masculino, senhor? Ah tá. Como foi mesmo que dizia o papel do banco? Visite uma agência e informe-se. Sujeito a aprovação de cadastro, nas letras pequenas. Levar CPF? Claro, sempre tem. Que isso? Tem que pagar pelo papel? É a enxugada de mão mais cara que eu já vi, hem. Cinqüenta centavos. Duas paçocas. É um dinheiro contado, até quando? Desde sempre e até logo, dinheirinho, você vai é ficar facinho, facinho. Boa noite. Olha só, vai ter baile do Marlon semana que vem. Puta azar. Vou falar pra Nô. Ela vai fazer aquela cara. Coitada. Boa noite, me dá um biscoito desse aqui. Isso. Um guaraná e uma paçoca. Quanto é? Será que aquele barulho todo no sábado era um baile? Só pode. Ela ouviu e nem disse nada. Não confia na mãe. Mas tem que colocar na cabeça que o menino tá crescido já, nem dá mais todo aquele trabalho. Uma hora vai ter que desgarrar. É muito difícil, mas é. Olha aí. Trouxe um biscoito e guaraná pra gente. Guarda a paçoca na bolsa que eu sei que ele vai gostar de ver quando acordar. Cuidado aí, não vai amassar. Sei. É cuidadosa, mas essa bolsa. Precisa trocar. Vamos ver se no dia 5. Com um perfume dentro, hem? Ia cair de amor. Me dá que eu abro, doce. Meio quente. Ta meio quente essa droga. Eles vendem por dois reais um guaraná quente, Nô; é. Olha o azar da gente, vi um cartaz lá dentro avisando que o Marlon Moura vai fazer um baile em Conceição na semana que vem. Sabia... Você ouviu? E porque não me disse, pra gente ir, dançar um pouco. Era só deixar o menino com sua mãe. Eu sei, eu sei, mas a gente podia se divertir tanto que até esqueceria de se preocupar. Tá precisando disso. Segura o menino como se alguém fosse roubar ele. Roubar. Vou te falar, Nô, vai dar tudo certo, viu? Eu vou ao banco depois de amanhã e vou descobrir como se faz pra dar início no negócio da casa. E é só a primeira coisa. Eu andei pensando aqui e tou vendo um monte de providências pra tomar. Você ainda quer que eu fale com o Célio, né? Então eu vou falar e vamos conseguir isso. Deveria falar com ele de qualquer jeito. Não preciso perguntar, é isso que tenho de aprender. Tomar conta deles. As decisões são minhas. Pode até desconversar, responder, mas quem ta mandando agora sou eu. O chefe da família. ... Sanfoneiro. Mas tem de ser diferente. Aplicado. Como será que eles aprendem a tocar? A gente não vê quando eles estão aprendendo. Vai ser difícil. E precisa ter dom. Nô, eu estou com uma idéia aqui. No dia 5, depois que eu for buscar meu dinheiro eu vou comprar uma sanfona pequena pra ele. Uma bem baratinha que eu vi que tem numa loja lá perto de casa. Não vou tirar dinheiro de nada, era um que ia sobrar. Fica sossegada. Eu quero uma vermelha. Será que é boa pra aprender? Hmm. O Laércio conhecia todos os sanfoneiros de lá. Podia ter perguntado pra ele. Como se aprende a tocar? Vai ter de suar, menino. Suar pra porra. Dança da garrafa. Ela diz que eu não tenho amigos, mas o Laércio sempre foi meu amigo.

Alô? Alô?

Oi?

Olá, Dona Suzana, é o Laércio. Desculpa ligar a cobrar, mas eu preciso muito falar com o Denis.

Ah, tudo bem, vou chamar.

Laércio?

Ou, Denis, precisava falar com você.

Diga, meu velho.

Lembra aquele dia em que fomos até a Serto buscar o dinheiro e eles falaram pra voltar no mês que vem?

Dia 5. Que foi?

Então, eu tou aqui. Encontrei um estoquista no sábado e ele me disse que a gente devia vir logo porque parece que tinha acontecido alguma coisa e a empresa ia fechar.

Ta maluco?

Não, não, vê só. Eu também fiquei sem saber, preocupado pra caralho. Daí eu vim aqui e, adivinha, não tem dinheiro mais porra nenhuma.

Num fala isso Laércio! Se ta de... porra!

Ni, eu falei com a secretária, Ni. A filha de uma égua me disse que não tem dinheiro, nunca teve. Que a empresa tá falida. Fudeu. Fudeu.

Vai tomar no teu cu, Laércio! É verdade?

Ei, não sou eu, porra. Pra que me mandar tomar no cu? Eu tô fudido também, Denis!

Ai caralho, o que eu vou fazer com esse menino? Vou ter de vender a alma. Quando faliu essa desgraça?

Eu não sei, não sei. Essa desgraça nasceu falida. A gente vendeu a bunda pra uma empresa falida, Ni. É muita desgraça. Eu tava contando com isso, você sabe. Eu tava precisando desse dinheiro. Tô fudido.

Laércio, vou te falar.

Tô fudido.

Eu vou bater lá no dia 5. To voltando praí no dia 4, a gente ainda não sabe, mas eu vou bater lá assim que eu chegar e, vou te falar, se eu não sair de lá com o meu dinheiro certinho eu vou matar aqueles filhos de uma égua, juro pelo nosso senhor.

Não fala assim, porra.

Que?! Tu ta louco? Eu não passei cinco meses carregando duas toneladas de cimento por dia nas costas pra fazer favor pra filho de égua nenhuma, não, cabra. Eu vou lá e eu quero o meu dinheiro. Que é meu, Laércio. Você também.

Faz assim, Denis, quando você chegar aqui, me avisa. Antes de ir na Serto, hem? Me avisa. Eu vou ver se falo com um amigo aí.

Pode deixar. No dia 5 eu to por aí.

To esperando.

Acordou? Ei, moleque? Vai ficar dormindo a vida toda, vai? No momento certo a gente aprende como deve ser pra guiar a família. Deixa eu pegar aqui, Nô. Ei, adivinha o que o pai comprou pra você. Oh. Paçoca! O problema é as pequenas gentilezas. O sorriso, o tapa nas costas, uma palavra mais doce, cuidadosa, bem retalhada no contexto. Fica tudo bem enquanto somos úteis, fazemos parte de uma engrenagem maior que nossos olhos, que deve só beneficiar os simpáticos, não sei. A gente que é de bom coração se ilude com isso. E se ilude tão profundamente que nunca desencanta. Nem mesmo quando descobre que o “senhor” e o “amigo” foram só um teatrinho pra nos divertir enquanto éramos roubados pelas costas. Gostou? Nô, pega ele. Deixa eu limpar aqui os farelos. Alguma coisa aconteceu para que eu tenha me tornado bom. E só. Nunca traio, minto, omito, roubo, furto, mato, escondo. Não quero ganhar quando vejo que o perdedor pode se sentir mal. Eu sei lidar com a derrota, posso carregá-la nas costas por anos, sem me dar conta de que me tornei o perdedor. Pra mim, estou vencendo.

Alo? Dona Marta?!

Alo, quem é?

Nossa, Dona Marta, é a Suzana, filha do Betino.

Suzana? Que voz é essa, menina?

É que... Dona Marta, a senhora poderia chamar o Anderson, por favor.

Você ta chorando, Suzana? Ta me deixando preocupada. Que aconteceu?

Chama ele por favor, depois ele te explica, se quiser.

Ai, ai, ai. Não vai botar o meu filho em encrenca, hem! Ele não...

A senhora chama ele?

Vou ver se ele vai poder te atender, Suzana, você liga assim, no meio da noite. Vou ver se ele ta acordado...

Oi Suzana.Que foi?

Anderson, não precisa ficar preocupado com nada, eu não tou chorando e por causa disso liguei. É outra coisa, não tem a ver. Eu só precisava saber de você se o Denis te contou alguma coisa sobre um dinheiro aí, que ele ficou de receber. Sabe o que é?

Olha, Suzana, eu sei, mas eu não tenho nada a ver com isso.

Nô, cê ficou sabendo que a Suellen estava internada e quase morreu? Eu não tenho certeza, alguma coisa na barriga. Ficou quase cinco dias no hospital. Aquele hospital grande lá perto da avenida. Deus me livre, cinco dias de hospital é duro. Né? Dias antes do pai morrer ele estava carpindo um terreno baldio pra conseguir um dinheiro. O terreno ficava a uns dez quarteirões de casa e o mato não estava alto, só sobrava capim em certos lugares, assim mais nos cantos; parecia sujo, sim, mas não era necessário necessário carpir. Ficaria mais apresentável, mais fácil de vender, de gostar, de querer ter, até, mas não precisava limpar ainda. Mesmo se precisasse era botar um gadinho lá e esquecer. Quando meu pai estava morrendo a gente nem foi para um hospital. Até podia ter ido, mas ele que falava, sem vergonha que era, que hospital no Brasil ou acelerava a morte ou adiava pro mês seguinte. Se for pra morrer logo, que seja até quinta-feira. Que foi, menino? Você sabe que se mostrar muito a língua pros outros você nunca mais consegue fechar a boca? Ele não teve câncer, pancreatite, meningite, diabetes, doença de chagas, derrame, ele morreu de cansaço. Simplesmente desligou. Não era miserável, não passávamos fome, não precisava mais carpir os terrenos que pediam pra ele carpir. Depois de dois dias teimando que precisava, ele viu o terreno limpo e liso, pronto pra entregar e pegar o dinheiro e decidiu que não conseguiria mais andar nem falar nem segurar a merda da enxada e caiu no chão. Foi assim que ele me disse que eu precisava crescer e ajudar meu irmão. Caindo no chão, longe de tudo e de quem pudesse o ajudar. Eu entendi o que ele quis me falar: “olha, filho, é bom você largar as brincadeiras agora, porque o pai caiu e não vai mais se levantar, nem amanhã, nem depois de amanhã, porque o pai, filho, o pai caiu no chão e nem a mãe, nem seu irmão, nem você vai poder levantar ele nunca mais, então vai ver se sua mãe ou seu irmão estão precisando de você porque o pai, filho, o pai não vai poder ajudá-los mais”.

O sol ta pra sair. Hoje ele não dorme mais. Passar a madrugada na estrada, não dormir, ter que esquecer que a perna não cabe no assento. Segurar o menino em revezamento. Trepidações, frio, podemos morrer se o motorista dormir ou se alguém lá fora estiver distraído. Sabe, Nô, essas coisas, correr atrás do nosso sustento, apesar de tudo, me dão um grande prazer. Eu só não sei ainda como entendê-lo. O grande culpado sou eu. Sozinho, eu sou capaz de salvar e botar em perigo os dois que me importam mesmo. Mas sempre, não sei, estou querendo salvar quem pouco me importa. É como aquele movimento da sanfona. Um xote entre os dois lados. Dançam no palco e dançam na pista. O fole contraído no grave, como uma pessoa que guarda as magoas e as guarda no rosto e no corpo e quem a vê percebe que há magoas guardadas, inchando. Ai vem a cena colorida, feliz, do fole se expandindo e soltando seu gemido de liberação. Eu gosto de pensar no sanfoneiro como ventríloquo. Na sanfona como eu. Eu queria ser menos como a sanfona e mais como o safoneiro. Mas assim que é.

Aqui é nossa casa, amor. Você não tem porque se sentir mal. A gente faz do nosso lar um pouco de paz, porque, pelo amor de Deus, como se faz pra não ter guerra lá fora, me diz? Assim se compensa. Você acha que eu vou então trazer problemas pra cá? Eu não vou ficar ouvindo você me dar lições de como eu devo agir com os outros que não nos querem bem, quando eles estão soltos na rua. Se seu irmão vem nos visitar, eu não gosto dele, mas vou fazer dessa visita uma coisa boa; vou oferecer minha cadeira pra ele e vou fazer café, comprar um pão, reparti-lo Eu digo, com sinceridade, se ele sai por aquele portão, ele se transforma num estranho para mim. É ainda o seu irmão, mas solto na selva, correndo atrás do nosso pedaço de carne. É assim que é, você sabe. Se o garoto está dormindo eu miro a porta do quarto como a entrada do quartel. O cofre. É o único lugar que a visita não entra. E se ouço aquele choro em pedaços, como um alarme, eu corro até ele, chego antes da mãe e, se vejo que é manha, choro dengoso, sem sentido, alarme falso, eu volto sem fazer barulho, encosto a porta tentando não ouvir eu mesmo o seu chiado. Porque os meus ouvidos são os ouvidos do meu filho. Se ele te disse que não tem nada a ver com isso, ele te falou a verdade, Nô. Eu mesmo não sei se ta mentindo ou se ta de seriedade. Não é o momento pra ficar fazendo piadas, então, vamos confiar nisso. O Anderson é um mentiroso filho da puta, mas pra que envolvê-la. Eu sei que parece sem sentido, que eu digo uma coisa, e faço outra. Só que, por acaso, até agora têm faltado coisas importantes pra gente? Não senhora. Deixa assim. Quando der merda, a gente sempre vai saber a quem culpar. Eu não quero e não consigo botar bons modos na vida. Até me surpreendo quando consigo pensar numa coisa dessas.

Oi. Fala, rapaz.

Oi, quem é?

É o Denis. Pode falar?

Caralho, tava falando de você agora. Como ta?

Falando com quem?

Com o Anderson. Como você ta, rapaz? Mais calmo?

Ei, escuta, porque você não avisa pro Anderson que eu sou a melhor pessoa pra falar de mim?

Ei, porra, nem vem com essa, Ni. O cara é truta nosso, meu. Ele vai com a gente na Serto.

Ah, sim, acontece que minha mulher ligou pra ele e ele não foi homem de falar que também tinha se fudido. Muito truta mesmo. Eu fiquei com cara de palhaço, parecendo que fui o único xibungo que se fudeu com a Serto.

Mas que merda, Ni, e porque a sua mulher foi ligar pro cara também? Quase botou ele numa cilada com a velha. Assim complica, né.

Eu também me faço essa pergunta, Laércio, mas eu acho certo ficar do lado dela, não? Foda-se, cara. Que horas ta pensando em ir lá?

Estamos só te esperando.


Eu pego esse 806BU e desço na Saudade. Eu não sei se seria um bom caminho pra você, mas acho que pode pegar o Vila Cruzeiro. Ele passa perto da praça, acho. Também não custa confirmar com o motorista. Ah, de nada. Estamos na mesma, não é? Não tem lugar. Ao fundo, hmm, não. Abaixar a cabeça e aguentar o tranco. Documento, trocados. Bilhete único. A cidade está em clima de fim de férias. Uma semana e volta o inferno. Você passa perto do Carrefour da Ignácio. É? Avisa no ponto mais próximo. Obrigado. Catraca. Licença. Perto da porta. Todo mundo de cabeça baixa, cada um com seus problemas. Duas toneladas de problemas viajando pela cidade, cruzando com outras, sem misturar. Será que compensa ter uma moto? Oi? Ah, sim. Pernambucano. Mas já quase paulista. Vai fazer cinco anos. E tu? Estudante. Do interior. Tem um interesse sincero, mas nunca vai fazer porra nenhuma com essas informações. Pensa que, se perguntar pra um cabra na rua que merda ele fez pra estar na rua, vai ter algo útil e então vai escrever uma historinha e vender livros. Eu vou te falar uma coisa, o barato é louco. Mas até que a cidade está tranqüila hoje, né? Ah, sim, trinta centavos fazem diferença. De nada. Será que é algum tipo de trabalho de escola... que merda. Eu até vou ficar orgulhoso se o garoto tiver um boletim cheio de 10. Mas tem que tocar sanfona também. Isso ia dar um orgulho no avô, puta. Credo, o velho morreu quando já era dois de mim. Tenho que tomar cuidado. Ah, obrigado. Terra firme. Dois quarteirões. Um sinal, sem botão. Rua suja. Costuma dar enchente. Como aqui tem carro velho, porra. Fala, Laércio. De volta a ativa. É o homem de Lajedo. E como foi o descanso? É. Eu mesmo não consegui levar a Suzana em baile nenhum. Até que só descobri que tinha baile quando estava indo embora. Também tínhamos que cuidar do garoto. É verdade.



terça-feira, março 06, 2007

Descobre

Querida, acalme-se. Tê-la perdida não é de todo mal. E, além disso, o mapa que tenho resiste em levar-me para a convergência dessas pernas. Serei teimoso. Sei que a dignidade que tem cultivado às escondidas ao longo desses anos e que, agora, encontra-se na primavera terá comigo sua vingança. Mas não é disso que posso reclamar. Quando ouço sua voz negra e bruta pelo telefone, ouço uma gargalhada de hiena. Tenho medo? Sorrio junto? É confuso. Um pequeno código na memória dispensa formulações sobre as características técnicas de seu discurso, pois recorre rapidamente ao seu arquivo e descobre... Descobre.