Contos, crônicas e novelas.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Meridiano de Sangue – ou O Crepúsculo Vermelho no Oeste



“Meridiano de Sangue – ou O Crepúsculo Vermelho no Oeste” é um western novel que não ajuda muito quem procura mocinhos infalíveis, donzelas em perigo, índios raivosos, revólveres de munição infinita; muito menos traz anti-heróis eastwoodianos, perspicazes soluções de enredo e atos violentos como únicas soluções morais possíveis. Sim, ele ainda é um romance passado no tal Velho Oeste, portanto lá estão os caubóis, seus chapéus e cavalos; as cidades precárias, suas tabernas e prostitutas; os índios e os mexicanos; as armas e os tiroteios.


Mas Cormac Mccarthy, ao retornar a este conhecido inventário de peças, espana-lhes o pó e as cobre de sangue abundante, propondo que o povoamento do Oeste (e o subseqüente nascimento dos EUA como nação) revela muito sobre o germe apocalíptico que todo movimento histórico civilizador traz embutido – e que isso nada teria de acidental. O que intitulamos barbárie, propõe, é sagrada, amoral e perene; a ordem, mero artificialismo. Ao descer alguns degraus em direção aos porões da civilização, “Meridiano...” nos apresenta um grupo de inumanos guiando-se em um mar de vísceras que parece, estranhamente, inodoro. Como a epígrafe de Jakob Boehme (autor alemão do século XVI, ligado ao gnosticismo) explica, “não se pense que a vida das trevas está mergulhada no desamparo e vergada num eterno pesar. Não há pesar algum. O pesar é algo que a morte extingue, e a morte e o morrer são a própria vida das trevas”

A fuga dos clichês do gênero arrima-se na pesquisa histórica, expediente típico entre escritores norte-americanos, a. A estória narrada é baseada nos diários de certo Samuel Chamberlain, homem que, após andar pela fronteira entre EUA e México do século XIX com uma gangue de caçadores de escalpo chefiada por certo John Glanton e por outro possível personagem real, o juiz Holden, escreveu “My Confessions”, livro no qual conta todas as atrocidades que viu e participou junto ao grupo.

Assim, os termos e as falas dos personagens seguem uma gramática e sintaxe que parecem serem fiéis à época; por vezes, sentimos a necessidade de termos um mapa do Texas do século XIX para nos localizarmos completamente; a descrição do funcionamento das armas rudimentares usa palavras semi-científicas, dignas de um dicionário; os homens (é um livro composto quase que apenas deles) nunca se assemelham aos lustrosos personagens de livros didáticos – pelo contrário, são feios, incultos, donos de desejos simplórios. É como se o livro tivesse sido escrito no exato momento em que todos aqueles horrores se deram, por alguém que de fato os viu – quiçá por alguém que deles também participou –, e não por um homem do século vinte.

Quem conhece outros livros de Mccarthy sabe que essa prestidigitação é comum. Sua linguagem, ao um tempo seca e pontuada de maneirismos (como a indiferença formais entre as falas dos personagens e a do narrador), cria uma originalidade e uma coerência interna de tal monta que temos a impressão de estarmos diante de algo escrito não por alguém inserido no dia-a-dia banal de um homem que lê jornais, vê TV, ouve rádio, diriges carros e vê filmes de western, e sim por um enviado das forças ocultas e superiores – um ser alheio a tendências literárias ou sociológicas, algo como o narrador em terceira pessoal ideal: uma ponte entre o real e o ficcional que só existe por um desses motivos incontornáveis da criação. A todo o momento nos perguntamos se não seria aquilo um excerto bíblico.

De forma geral, a sinopse de “Meridiano...” não é muito diferente da do livro de Chamberlain: um órfão de 16 anos, chamado apenas de rapaz, se junta ao grupo de Glanton, que caça escalpos de índios e mexicanos por encomenda. Tentar resumir a história, cheia de pequenas reviravoltas, seria inútil. Não existe uma longa linha articulada de fatos que se relacionam em chave de causa-conseqüência. Em movimento constante, os cavaleiros vão de cidade em cidade, de massacre em massacre, sempre irremediavelmente sujos, carregando uma indumentária grotesca. Vestem-se com roupas feitas de pele humana, carregam correntes cheias de orelhas, ornam seus cavalos com cabelo e dentes de seus mortos. São repletos de cicatrizes de batalhas anteriores – um não tem as orelhas, o outro tem o rosto desfigurado, dedos extirpados são comuns. Nada de calças jeans apertadas, camisas xadrez e aconchegantes sacos de dormir, muito menos um inglês de sotaque britânico como em filmes de bangue-bangue. Eles são quase mudos, fantasmas afetivos desprovidos de qualquer espectro de de vida interior. Perto deles, o Fabiano de Graciliano Ramos é um verdadeiro Julian Sorel de Stendhal. Naturalmente, parecem terem vindo de lugar nenhum: não se sabe suas origens e isso pouco nos afeta, aceitamos suas existências puras da mesma maneira que aceitamos as de cactos ou rochas.

Brutos, vivem como em uma tribo nômade incapaz de compartilhar de qualquer espírito cooperativo tribal. Matam uns aos outros, não enterram aqueles que ficam pelo caminho – pelo contrário, ficam com suas roupas e armas. Odeiam-se ou se ignoram. São substituídos como peças desprovidas de capacidade de se darem importância, não têm consciência de sis mesmos nem dos que o cercam. O tempo em que vivem é cíclico, e a jornada do grupo, a partir de certo momento, não tem destino que não seu próprio fim. Como não são exatamente humanos que a conduzem, não se trata da organização civilizada do tempo: os homens, bichos-armados, estão submetidos ao extra-humano.

Os únicos personagens que recebem tratamento diferenciado são o rapaz e o juiz Holden. O rapaz, protagonista da linha narrativa de rosto nunca descrito, serve mais como uma lanterna: aonde ele vai, vai também a estória. Ainda que ele também mate, é o único que apresenta sentimentos. Aqui e ali demonstra ser um homem piedoso; é o único que põe em questão as atitudes do bando. Apenas no final guia a ação, mas sempre a testemunha.

Já Holden afigura-se como um personagem pronto para assombrar-nos em nossos piores e mais sofisticados pesadelos. A começar por sua aparência. Mede cerca de 2,25m, não tem pêlo nenhum no corpo e é albino. Parece impossível estimar sua idade. O bando encontrou-o rindo no meio do deserto, parado encostado a uma rocha, sem cavalo ou bagagem, como se tivesse estado ali desde sempre a esperá-los. Dono de uma destreza insuperável com armas, ele as constrói e as usa como ninguém algum dia viu. Leva sempre consigo um caderninho, aonde faz anotações e desenhos sobre a fauna, a flora e seus colegas. É fluente ao menos em inglês, indígena, holandês, francês, latim e grego. Tem conhecimentos avançados sobre geologia, teologia e filosofia. Fala como um erudito e, às vezes, junta o grupo para monólogos quase incompreensíveis. É cortês e dança esplendidamente, com direito a passos de bailarina. À noite, é visto correndo nu pelo acampamento, gritando ou falando sozinho, insone. Como a maldade encarnada, em certo momento salva dois cães filhotes apenas para destruí-los com as próprias mãos. Repete, na última página do livro, que “não vai morrer”. E adora crianças: sempre que o grupo cruza com uma delas, a leva no colo carinhosamente por alguns dias e, semsabermos como, a estupra e mata.

Cristo e Satanás: essa é a oposição que os críticos costumam estabelecer entre os dois. Na verdade, existe mais do que oposição entre os dois – é sim uma relação verdadeira, de curiosidade e de vigilância. Há um momento em que o rapaz pergunta: “E ele é juiz do quê”, não tendo resposta de ninguém. E o narrador deixa claro, em várias passagens, o olhar especial que Holden põe sobre o rapaz. Até por ele ser quase uma criança, estabelecem-se situações de tensão quando ambos estão em cena e nossa desconfiança de que são as duas pontas de uma corda que toda aquela matança carcome – e que as duas, mais cedo ou mais tarde, se encontrarão – é satisfeita pelo final, em que, após a morte ou fuga de todos do bando, o juiz passa a perseguir o rapaz por um motivo não explicitado, como um monstro de sonhos infantis, por entre montes de ossos, através de um deserto de horizonte sem fim. É uma enorme cena, quase que puramente simbólica. Se no início ambos pareciam os únicos homens de carne e osso, se tornam pouco a pouco caricaturas, signos puros do “bem” e do “mal” – destituídos de sua humanidade tal como os cadáveres acumulados durante as páginas do livro foram atirados para longe do imperfeito mundo dos vivos. Um “bem” acovardado e um “mal” sagaz, é verdade, mas ainda em conflito, em interdependência.

Afora os dois, esses cavaleiros do apocalipse não são tratados por Mccarthy como especiais ou predestinados: cumprem à risca o papel de homens comuns da história, ao mesmo tempo que agem com a mais pura selvageria – mesmo os indígenas são mostrados como seres afetuosos e minimamente piedosos. Não estão muito distantes dos cavalos canibais, dos abutres onipresentes ou dos porcos comedores de carcaças humanas. Pelas cidades que passam, alastram o horror, estuprando as mulheres, embebedando-se até a inconsciência, matando os nativos com a mesma gratuidade com que se mata insetos. Estes povoados, que contratam os serviços de proteção do grupo, estão apinhados de uma gente infecta e miserável que vive em precárias casas de barro. Por vezes, um desses cidadãos quaisquer é recrutado pra o grupo de assasinos. Sem maiores indagações, passa de vítima a agressor.

Quando anoitece, somos transportados para tabernas às escuras, habitadas por seres que vivem nas sombras, ou para fogueiras rodeadas de rostos cadavéricos e mudos. As cenas de batalhas, narradas com uma objetividade nauseante, são dignas do inferno de Hieronymous Bosch. A verdade histórica é tratada com tal rigor que dobras-se sobre si mesma: não é preciso muito para que se pareça com a mais gótica ficção.

Essa subversão estrutural da verdade é uma constante no livro. Tudo o que se refere à passagem humana é tratada com enorme despojo poético: conta-se nos dedos as metáforas usadas para descrever os massacres, as cidades, os rostos. É uma narrativa sempre muito objetiva e detalhada, num esforço cinematográfico de verossimilhança. Coerentemente a esse artifício, não existe julgamento moral algum. Estabelece-se então uma confusão, pois não parece crível que todo esse horror absoluto – tratado como tão verdadeiro – seja impune, que seja livre de pesar, que os homens sejam de tal maneira despojados de sentimentos, que gozem de uma normalidade diabolicamente niilista. Parece mentira.

De fato, “Meridiano...” é uma ode ao apocalipse da idéia civilizada de verdade: ela não está na ciência, na retórica, na moral ou no afeto, uma vez que nada disso existe nos personagens do livro. Eles, protótipos do homem comum, nada sabem, pouco falam, nunca sentem. Não há Estado, não Deus, não há Ordem. Como Holden diz, “a Guerra é deus”: a verdade só existe como não-verdade, na medida que a própria verdade é uma invenção humana; ela só é possível na selvageria, no não-humano, que dela não se ressente pois a ela não busca. Uma honestidade verdadeira e universal, pois não conhece o falso, essa dicotomia inventada.

Assim, os momentos mais belos do livro são reservados para as descrições do mundo que cerca os homens. É aí que Mccarthy concentra sua escrita deslumbrante, é quando mostra-se digno das insistentes comparações com Faulkner. As descrições das montanhas, de longínquas tempestades elétricas, do clima com todas as variações possíveis e das monstruosas nuvens de poeira ganham trato poético refinado e poderoso. O meio ao qual os semi-homens devem deferência e maternidade é mostrado como a terra de deuses ausentes, paraíso auto-suficiente e imemorial. Ele é justo e injusto, certo e errado; ele é absoluto, unívoco; ele nunca esteve vivo.

A banalização da vida tem aqui um sentido não fútil, mas de reforçar o que existe de perene, de não-civilizacional. O homem é passageiro de um trem – o real – do qual ele apenas fantasia ter controle: acredita que transformá-lo é recriá-lo. Quando o apocalipse se der e não mais puder ser nomeado, quando todos os caubóis, todos os índios e mexicanos, quando a própria história (como reconstrução necessariamente ilusória) e a própria literatura não mais existirem, ainda estarão ali as pedras e a poeira; as tempestades elétricas a iluminar montanhas de matéria bruta – como “gigantescos monstros marinhos adormecidos”; ainda existirão as imagens e a sua beleza.

E é à Morte, por sua vez, que esse mundo remete. Não a morte religiosa, continuação fantasiosa da vida, mas a Morte como idéia pura, fonte metafísica primária e intocada, como tudo aquilo não conhecido. Inexorável – é a única constante na errática jornada do grupo de Glanton –, ela trará para si tudo o que é belo, tudo que apodrece: como fim, baú da memória e das imagens e da própria existência. Ela é maior do que a vida como o oceano é superior aos incontáveis rios e seus afluentes que o alimentam; como um disco de Newton é superior a todas as cores nele inscritas; capaz de comportar o incomensurável por que é nela que pensamos quando criamos esse tipo de definição incompatível com nossas capacidades de apreensão.

O que Mccarthy faz, com sua pilha de mortos, é criar um mundo limite, obviamente fabular e exagerado, justamente para estabelecer uma baliza. O desenvolvimento do que conhecemos como civilização – e sua hipérbole, a modernidade – tem como valor primário a vida, seu aperfeiçoamento, melhoramento, sua eternização. Costumamos entender ela como a Verdade a ser perseguida e defendida. E isso, por frustrante que seja, não será verdadeiro enquanto não for confrontada com o absoluto de seu oposto. Eis o paradoxo eterno que Mccarthy traz à tona: o culto à morte é o primeiro indício que um grupo humano é civilizado; se não a observamos em todos seus detalhes, se não nos paralisarmos perante a sua beleza inescrutável, somos ainda animais primevos.

Holden é assim o protagonista do sentido do livro, pois guarda em si as ambivalências desse paradoxo. Quando, anos depois das aventuras junto ao grupo, o rapaz (já velho) o encontra exatamente com o mesmo rosto que tinha décadas atrás e o juiz o empala em um banheiro fétido do fundo de uma taberna, a morte prevalece. Como gostamos de pensar sobre a Justiça, tarda, mas não falha. Afinal, ele é o juiz de sua espécie, ser eterno, como que vindo à carne para a ela destruir, que conhece a tudo, pois é a esse cosmomundo que está ligado, de onde provém e para onde parece querer levar tudo o que o cerca. Em seu nunca lido caderninho, tenta se apossar da vida em assassínio simbólico, levando desenhos de homens e de animais dentro do bolso. Quando tudo passar, ainda dançará, belo e frágil. Ainda será o homem que o homem perseguiu ser durante toda sua história: imortal e magicamente sábio, desvendando também que, por dentro de sua busca desesperada pela existência, existe a dialética necessidade de autodestruição. O prazer que tem em destruir os germes humanos (crianças) das formas mais violentas conhecidas é a resposta inversamente proporcional à arrogância humana – e o faz sexualmente, como uma reprodução estéril. A fina ironia de um monstro.

Trata-se de um ato de estranha honradez e humildade perante a próprio destino a que estão condenadas no exato momento em nascem. Forte é o homem que compreende o poder da morte e do mal, não aquele que se ilude com a transitoriedade de bem. Como ele diz em sua última frase ao rapaz: “Há ursos que dançam e ursos que não dançam”. Ele dança.

domingo, novembro 06, 2005

Diálogo de Merryl


Essas filhas de pescadores deviam adorar. “Papai, hoje você
trouxe aquela
baleiazinha morta para eu brincar? diz que sim, diz que sim,
vai”. E toda a família
do pescador cheira a ranço de merda e de sangue e de
gordura de baleia; e os
vizinhos adoram, porque a morte da baleia lhes enche
de alegria. É como no
natal. Alegria.
Daí a filhinha chama a Merryl,
amiguinha da frente. As duas
ficam olhando a baleiazinha morta no quintal
com as gramas queimadas pela neve e
ficam espetando o animal com uns
gravetos escolhidos no dia anterior da chegada
do pai e dizendo: nade,
baleiazinha, nade. E as baleias não têm pálpebras, e
aquele olho aberto fica
olhando a Merryl; encarando o corpinho apetitoso da
Merryl.
É,
a Merryl é uma menina bem loirinha, estrábica do olho esquerdo,
com os
cabelos brancos, e ela, quando a amiguinha diz que vai pegar um pouco de
água pra baleiazinha nadar, enfia os dedos no animal e se meleca toda, mas
pega
o olho e guarda no bolso, porquê acha que ele é "bonito como o da
mamãe"...ritual: toda noite ela olha para o olho e coloca a mão "lá" e pensa
na
mamãe, que não tem o olho torto.
A única pessoa que sabe do pequeno
segredo da Merryl é o papai. Por isso, o papai obriga a pequena merryl a ficar
falando com aquela coisa gosmenta e erétil que ele chama de "arpão", enquanto o
tal arpão se encosta no rosto dela. Esse era o futuro da pequena merryl:
uma prostituta em miniatura que carrega um glóbulo de baleia-bebê morta tinha
mesmo que chupar um pintão fantasiado simbolicamente de arma pré-civilização.
O mais engraçado é que, em seus devaneios, a pequena Merryl acaba sempre
indo parar num navio mercante com bandeira panamenha, já mais velha, e mais
caída, cansada, essas coisas, e se encosta ao lado das caldeiras do navio e fica
olhando a lenha queimar e espera chegar em algum lugar que o papai disse que
existia depois da puta-que-pariu.
Naturalmente - como sempre foi com a
pequena Boca De Lixa, esse é o apelido que os amigos do pai dela deram para ela
quando aos 13 anos ela se encantou com os olhos - sempre eles - de um cafetão
norueguês e foi parar no prostíbulo mais infecto da cidade portuária onde
moravam - o depois do puta-que-pariu foi um bukake alcoolizado depois do porre
das 7 da noite, em que um marinheiro mais afoito, que cortara o dedo na cozinha,
resolveu que um pouco de sangue para dar cor no esperma não seria um problema. E
então a menininha de 16 anos estava de repente coberta de porra e de sangue e
lembrou do tempo em que a menina da frente da casa dela - qual o nome mesmo,
ahn? - trazia um bicho esverdeado e de fendas brancas na pele absolutamente lisa
e elas ficavam adorando aquele bicho e achando que ele sorrira para elas
enquanto tinham a sensação contraditória de que todo mal do mundo fora colocado
nas costas de um grupo insône e puro de seres marítimos minúsculos. Claro, por
absoluta imbecilidade humana, já que esses animais gigantes e
horríveis, que continuavam a dar testadas nas embarcações dos papais, eram
protegidos.
É, por que a Pequena Dentes de Aço - esse era o apelido que o
menino de cara manchada tinha dado a ela no último ano da escolinha amarela -
tinha nojo das coisas pequenas: como as baratas bebês que ela via nascer no meio
das tábuas do alpendre, todas brancas, se escondendo atrás dessa pureza, não
mostrando que tramavam algo que nenhum olho enxergava, imperceptíveis e
vingativas; ressentidas da própria
mediocridade. Ela estava no meio de
baleias e micróbios, segurando um olho
putrefato e lambendo o arpão de papai
quando, num sono profundo – sempre ele –,
se lembrou que sua bucetinha havia
sido invadida por um calor incomum quando
aquela lâmina afiada começou a
roçar no chão de asfalto: "isso é a tal da
porra". E era coisa cortante, que
deitava a perna e lambia suas coxas por dentro
deixando uma linha fina
vermelha nelas - não sabia se era sangue dela ou da
coisa - e que cheirava a
bucetinha lisa como suas bochechas, se ajeitava em cima
dela e só daí
começava a escorrer para dentro. Parecia que aquilo era o
contrário do que
devia ser - voltando de onde devia entrar - e quando entrava
era como se
tivessem jogado ela num banho frio, mas um banho frio só lá dentro,

dentro do lugar onde a mamãe falava para limpar bem, "se não vai crescer
bolor e seu neném vai nascer com uma peruca de fungo, pingando coisa ruim,
pingando baleias e micróbios". Baleias minúsculas, baleias do tamanho de
baratas
e do plâncton que - agora - poderiam encará-las de frente, como um
chaveiro das
baleias bebê que ela ainda via nadar em seus sonhos, num mar
manchado de verde
escuro, de onde essas baleias estavam sempre saindo, com
seus olhos enegrecidos
e podres guardados no bolso de gente viva.
Sabe,
a menina está lá encostada nos pelos escorrendo suor do papai, mas ela olha para
ele e vê esse enorme monte de metal retorcido boiando no vazio azul-cinza,
enegrecendo rumo ao norte, ele parece estar parado ou andando em uma
velocidade
exatamente igual à dela, que flutua, porque o monte de metal
parece uma miragem
criada por ela mesma, e tem infinitas camadas de metal,
uma sobre a outra,
gigantesca. O Arpão, ela pensa...
Ao mesmo tempo, um
estranho ser começa a se movimentar em seu ventre e parece forçar um milagre, um
nascimento, saindo de sua buceta que vai se abrindo sem parar, ignorando limites
físicos, parecendo borracha, e quando esse estranho começa a aparecer para o
mundo é como um navio mercante sujo de lodo e algas, soltando
fumaça branca
e sujando o mar de óleo, sujando o seu ventre de sangue. Mas ela
diz:
E
nenhuma e nenhuma e nenhuma baleia estrábica, bruta e gosmenta vai tocar em
você, meu filhote, minha vida! Vou fazer você singrar cada partícula desse
mar
gelado até que fique livre de todas as baleias do mundo. Sejam precisos
mil
Arpões, sejam precisos mil papais, eu vou te proteger, meu filhote.
Ela solta o navio-bebê em brumas que fazem movimentos rápidos, como que
puxadas por uma maré invisível, e ele anda devagar, tal passarinho saindo do
ninho, um potro de ferro esculpido e focinhos em forma de ancora e não que o
pequeno vai indo, magneticamente, afetivamente, estupidamente para o Arpão, o
monte ignóbil de aço desconjuntado que a Tudo vê. E Merryl diz à sua amiguinha
da casa da
frente, meio olhando para ela, meio olhando para a casa, muito
olhando para o
nada: "Posso pegar o olho dela?".

sábado, outubro 15, 2005



©2005 Gabo Pinotti ;-)

sexta-feira, agosto 26, 2005

A felicidade de Joaquina na estória intercalada

Quando Joaquina primeiro viu a luz, seus pés tremeram como se estivessem sob a placa de San Andreas durante um terremoto pra lá dos 8 pontos na escala Richter. Sem exagero, Joaquina ficou doida. Sua pele toda se eriçou. O pescoço se contorcia sem cuidados, sem descrição alguma. Era vê-la e tomar um susto também. Aquele calor que sobe ao corpo: braços sem força, pernas cambaleantes. Essa tensão sexual, essas coisas de sexo todas juntas nela se deram. E se deram também a amor materno, o amor fraterno, toda sorte de amor, bem dizendo, acometeu Joaquina quando ela primeiro viu a luz. E ódio e desprezo podiam ser vistos em seus olhos quando estes se abriam, e podiam ser lidos em seus lábios quando estes se mordiam. Nos movimentos de Joaquina se liam ainda os dias, os meses, sua vida toda. Era cair e lembrar da infância, levantar e ver a juventude, a conquista da independência. Se ela se lembrava de algo, as palavras se tornavam gestos. O signo, a língua, eram como um pulo que se comunicava por frases secas e fáceis de se entender. Quem viu lembra bem que qualquer articulação contorcida que se via em Joaquina lembrava perfeitamente seus traumas e medos, que ficavam sempre escondidos; até que ela viu a luz.



O mais lindo de tudo é que Joaquina não se abalou em nada. Ficou pasma, sim, mas com atitude. Todos aqueles filósofos que antes disseram suas verdades, encadernaram seu raciocínio, pingando os is e versando o absoluto, descobririam que suas palavras eram um prólogo exageradamente extenso para o que se via no rosto da menina, nua entre o povo todo, na frente, atrás e sobre o véu que sob nós separa de nossos pés o sujo chão, a úmida grama, o seco deserto. Religiosos teriam que rever seus livros em busca de novos significados para o escrito; com Joaquina, eternamente viva no instante, mudara em sua presença secular o jeito de agradecer ao divino. Também seria por ela, e não por nós, que a política dos grandes torna-se-ia a fofoca de cadeiras, a troca de boatos, o aperto de mãos entre vizinhos que se odeiam. Ao ver a luz, Joaquina nem se deu ao trabalho de caçar pudor e tampar o sexo. Pudera, esconder-se de quem a via era mentir demais. Pura que era, deixou-o a mostra, ao ar livre, para um gracioso descanso enquanto contemplado. E foi isso: o primeiro gozo de Joaquina Guarda-Beleza aconteceu quando ela lia “Tudo”. E todos entenderam a estória de Lampião sem ler do livro um palavra que fosse. Mesmo assim, quem não gostaria de lê-lo pessoalmente?

terça-feira, agosto 16, 2005


Em algum lugar da minha infância inventada


Em algum lugar da minha infância inventada, há um homem muito sujo sentado no chão, com o dorso encostado num muro branco ofuscante em uma rua completamente vazia, uma perna retraída e outra relaxada, os braços caídos, esperando alguém passar apressado, de remelas nos olhos, levar um tropeço desses que ocasionam um vôo curto, no qual flutuamos de uma maneira quase verdadeira – pois inesperada – e que tem como resposta uma indefectível olhada para trás, para saber o que afinal foi capaz de roçar nosso centro de gravidade com uma contundente varinha de condão. Talvez fosse muito cedo e eu estivesse perambulando por lugares desconhecidos, perdido dos familiares (tios distantes, pais e mães) que há pouco havia conhecido em uma festa para adultos, com saudades da cama da qual pulei alegre em busca de um presente escondido lá fora. Era alguma data especial em que adultos criam jogos para que a descoberta do pequeno se confunda com o prazer proporcionado pelo objeto a ser descoberto – incentivando a criança a ser como um animalzinho que precisa aprender a caçar, para só então ser digno da facilidade -, mas não me lembro bem se era Natal, aniversário, Páscoa ou algum enterro, nem como achei as pistas que me levaram ao mundo externo de casa, o que eu queria ganhar ou o que ganhei – sequer se existia essa coisa. Num certo momento me vi cercado da cidade vista pela janela do carro de mamãe, sozinho, procurando pela cama aonde poderia chacoalhar os ombros como um febril e agarrar os lençóis com dedos de marionete raivosa, gritar absurdos sufocados sugando e lambendo a saliva do meu travesseiro, deixando que as dobras do tecido me deixassem marcas, dando um longo abraço em seu espaldar, contraindo-me como um feto, preocupado em nada tocar senão eu mesmo, esse conforto uterino que poucos conjuntos de coisa fabricada podem proporcionar, senão nossa cama infantil e pequenina – moldada em longas leituras de contos de fadas, como o descanso de algum ser mágico de orelhas longas e peludas que habita uma floresta muito distante. Mas estava longe da cama, a olhar o homem que encontrei de canto d´olho durante uma corrida rápida até a esquina que se evaporava adiante. Havia pensado se tratar de uma pista ou de alguém capaz de me indicar um caminho, algum avô fantasiado ou um irmão que não conhecia? Emudeci. Seu olho direito sorria, mas o esquerdo gritava, soterrado sob uma pálpebra que não parecia ter serventia, escorregadia, oleada e toda preta, como uma maquiagem táctil sobre sua cavidade óssea, pontuando uma parte morta de sua figura, abrindo uma fenda: parecia-me possível colocar uma mão inteira dentro de sua cabeça – quem sabe que tipo de secreção me receberia -; por que não me deixar mergulhar para dentro do que já não existia e, de lá olhar para fora e ver apenas um ponto tão branco como era negra minha porta de entrada, poder me observar observando, o alicate de meus dedos alargando a passagem, minhas pernas dobrando-se como se não tivessem ossos, o corpo caindo e nunca chegando, se preparando para um baque que eu já sabia como seria e que ainda assim me causaria um aperto no peito. Sobre o que conversaríamos, eu e esse outro que entrava? O olho direito, arregalado e trovejado de veredas vermelhas, traçava um magnético e cruel feixe de linhas em minha direção, atrapalhado apenas por um dos longos e escassos fios que pontuavam seu escalpo, de resto invisível. Ele parecia todo negro, uma mancha heterodoxa, recoberta de fuligem aquosa (a pele tinha momentos bronze, talvez algum esfregão inconsistente) que devia sujar a parede há pouco caiada, criando uma contradição ainda mais vertiginosa que a da sua órbita – como se esta fosse apenas um portal que de vez em quando aparecia (um tumor ou um furúnculo migrante), como se junto com seus dentes que mastigavam o a barba acinzentada, com seu peito desimportante, com seus braços grudados e autômatos, com suas roupas fundidas, com a calçada que começava a se tornar gelatinosa sob meu pés, com aquele cheiro de ausência que as construções fantasmas (espectros de casas para alugar abandonadas por causas devidas e de prédios sem janelas, tortos em suas linhas retas, sombras enormes de pequenas lojas com seu néons congelados anunciando promoções em antigas moedas estrangeiras, lembranças de uma igreja, assim, no meio da rua, semi-móvel e feita de pó) segredavam por seus poros de pedra e que me preenchiam como cimento vivo e fresco, com a própria matéria que respirávamos, com todos os milhares de ruas como aquelas (todas iguais) que minha infância havia visto, com a esquina que eu nunca chegaria com o presente que nunca acharia com a cama à qual me abraçava em manhãs como aquelas e com os rios de luz fria que vinham de todo o lugar e com a pacificadora sensação de solidão; como se tudo isso fosse ser tragado pela imagem do homem velho e satisfeito encostado na parede branca. Ele não se movia: sua tridimensionalidade era um milagre sombrio, como um vulto, algo de outro mundo, uma nuvem de poeira saída de um filme do futuro desenhada por um fino cajado oriental, capaz de ser a antítese do que o cercava – as ondas de ar iam e vinham com sua esqualidez em laudatórias investigações, intrigadas com a solidão retumbante do homem, uma área meticulosamente recortada do todo, impregnando os rabiscos a que o resto (colegas, decisões, peças gravitando) se afigurava, um pavão se exibindo como abutre de estimação, ave fantasiosa guardando sem esforços e com tenacidade, sob suas longas asas dobradas de pele suja, um ponto acidentado abissal da minha própria lembrança; chupando, no direito de invenção, para dentro de si punhados de anos e condensando-os em algo que nunca existiu exceto como o vazio de um álbum de fotos sob plástico antigo. Se aquilo parecia de alguma maneira estar agindo conforme era de sua obrigação, nesse arrendamento sem fim de tudo aquilo que o cercava, era presumível que tinha sido eu o escultor desse trono; o que buscava lhe dando o cetro, lhe vestindo os trajes de senhor que agora exibia para a multidão de outros fantasmas então atrapalhados em sua desimportância e assumindo assim como legítima a força que os puxava de volta a algo que não estava tão distante de um ventre? Ao homem deviam servidão sanguínea, um mestre mineral de suas causas, conseqüências e conexões, pequenos transatlânticos que eram, guiando-se por um farol onipresente em negativo – seus nortes e significados acabavam sempre sendo alocados de proa para a sombra oceânica, pois era ela - e a própria idéia de sua necessidade, ancorada em todas as dores de meus esquecimentos e buracos – o que de mais natural surgia quando buscava trazer à tona as coisas vividas. Ainda que esse homem sujo encostado num muro limpo seja apenas um retrato pintado com giz de poeira em uma tela em branco, em algum momento decidi, como uma criança mandona, que era para ele que deveria sempre olhar antes de entrar no museu, e dele se lembrar quando a porta atrás de mim fosse fechada abruptamente por um desses ventos encanados que sopramos no primeiro sinal de incêndio. Era confortável ver um mundo bipolar, no qual algo tão simples como uma imagem pudesse ser o começo e o fim do turbilhão (cuja obviedade serena passava a ser o sinal negativo da fantasia arbitrária que o havia originado): a infantilidade naufragando, sem nunca se afogar de fato, nos milhões de espinhos negros cultivados como algas, filtrando o que lhe cercava e devolvendo só o bagaço. Valha-me deus! É preciso ser algo doente, percebo hoje, para ter na negação a salvação. E, nesta, apenas uma arma de brinquedo esboçada num quadro mágico grudado na geladeira da cozinha escura, que dá prazo de validade a qualquer um de seus projéteis imateriais e viciados. Quando o homem me veio a primeira vez, ainda acreditava ser possível me esconder das pessoas abaixando a cabeça e colocando-me sob as mesas e cadeiras, abrir a porta e entrar em lugar algum (olhando pelas dobradiças), puxar a cortina como uma capa e ali desaparecer para ouvir os outros me procurando, às cegas como eu estava, ecos do corredor e da garagem – algo poderia acontecer a qualquer momento no quintal – um passo por pouco desviado do rumo de meu esconderijo, uma tensão crescente perante meu sumiço, gritos súbitos com essa minha nova habilidade, todos festejando minha ausência e por fim brindes de alegria: eu havia deixado de existir e, por mais que ansiasse ganhar algum beijo ou olhar superior, essa transubstanciação em memória alheia e individual me tornava um privilegiado observador de minhas faltas e acertos, julgados com a distância possível. Eu não seria uma alma a vigiar meu enterro, um penetra invisível em meu velório: veria por olhos tão humanos as lágrimas que correriam, me acudiria a mesma falta de ar: estava ali dentro, da sala de comando, senão apertando os botões, ao menos servindo como monitor desses afetos, então explodidos, sobre minha pessoa. Ser lembrança me dava a imortalidade de um signo familiar específico e a proximidade que sempre neguei, arrancava-me, sutil, meus amontoados de pele, tornando-me mais gente, dando-me carne. Mas logo uma mão sacava o pano de cima de mim, me descobria aos olhos do mundo e todas as possibilidades de eternidade perdiam-se na atmosfera de risos estridentes e suspiros aliviados – “ele, enfim, não se foi”. A multidão de joelhos dessas festas, cheias de gente vista apenas de relance e capaz de me entender como um fresco raio de uma manhã mal acordada de sábado, me garantia a platéia ideal. As memórias dos próximos eram complicadas e cheias de curvas, a desses outros eram limpas e pontuais. Eles sim guardariam para si minha magia, estes sim apavorariam-se em pensar o que aconteceria se o próprio filho sumisse para sempre atrás de um móvel banal como uma cinza flutuante, lembrariam de mim como um anúncio irrevogável das artimanhas de se estar vivo, um menino incrível; seria sempre um estranho, um alerta ocasional. Aos próximos restaria o repisar repetitivo dos mesmos grandes momentos; olhando para eles (eu) com uma dose ardilosa de controle, teriam o poder de me transformar em algo deles, tornando-me apenas uma propriedade incontornável. Foi no meio desses faisões assados, cálices estilhaçados, grãos de arroz espalhados pelos cantos do sofá e vozes conturbadas e abafadas formando uma redoma de desenho irregular que me despi das roupas de cama e caminhei, evitando cada ponto de barulho, para fora de casa, ao encontro dele. E como se sair, chegar, olhar e sentir fossem passíveis de serem concentrados na energia e no tempo de uma piscadela, estava a desistir daquela torrente de resistência pueril e a me fundir com o concreto a baixo ao lado e acima de mim, a me deixar levar pela linha que havíamos criado naquele instante – a agarrá-la firmemente a despeito do corte fundo que ocorreria e do sangue que brotaria; o homem sorriu-me, olhou para os lados para se assegurar que nada ocorria e disse-me, movendo-se de uma vez por todas para sussurrar feito um lobo ancião entre as mãos, que se moveram rapidamente como se tivessem motores ou fios de náilon: “O que há menino? Perdeu alguma coisa?”. Ainda houve tempo de ver os círculos concêntricos fechando-se sobre mim, de tropeçar na perna estendida, do ralo assoviar decidido pela órbita do homem, de perceber a multidão de clones rindo do meu tombo de novato e me dando tapinhas violentos nas costas, ritual iniciático cujo convite da festa comunicaria que eu não estava mais sozinho.

quinta-feira, julho 28, 2005

Houve um problema nos Correios.

Essa epístola já faz anos quase. Nela cresceram alguns dentes com o passar do começo para o presente meio e posterior fim. Chegando aí, pode ver. Já estará pronta pra correr. Natural, alías. As cartas fazem percurso similar ao do Homem. E são dos satélites. Sua órbita, porém, prolonga-se. Deve-se lê-la, libertá-la e reencontra-la anos depois. Sem isso não é carta. Mas enfim, temos que ter um assunto. E aí que fico em dúvida.
Certamente a fuga dos meses é um fato. Mas não sei se sustentável. Poderia discorrer que os meses correram da e para a gente. Isso seria verdade; o cabeçalho, de maio, comprova. Mas faria alguma diferença falar sobre isso? Não. Aparentemente seria apenas um subterfúgio raso, uma forma de responder um acidente tão grave como o de sua carta com uma obviedade. Ôche, e lá sou disso?
Novos projetos? Aconteceram sim. Valeriam a carta. Mais barba no rosto, mais dedos em riste. Mais uma porção de coisas que se deram nesse ano corrido. Porém, como nos conheço (muito mais a mim mesmo do que a você, claro), receio que não seja saudável falar sobre isso. Queremos um ano maior que esse, por maior que esse tenha sido em relação ao ano passado. Não, não é saudável falar sobre isso. Olha, minha saúde está boa. Está tudo bem contigo?

terça-feira, julho 12, 2005

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terça-feira, julho 05, 2005