Contos, crônicas e novelas.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Imagem x-x

Num canto da cidade, sob chuva fina, luzes estourando sem muita lógica, sombras cambaleantes, ronronares cadenciados e nervosos de gente simplesmente indo, enormes pés inchados dentro de sapatos gastos, sob um burburinho – uma camada - de homens de chapéus engraçados reclamando do passado e de mulheres apertadas em tendências meeiras, risos rarefeitos ecoando crianças que não vão aparecer tão cedo, sob a incapacidade de olhar além da reta e daquela coisa que vai sem vir e que continua raspando a garganta nos momentos mais impróprios (tão comum quanto própria ou inconsolável), sob aquela outra coisa que passa pelo canto da órbita, que impregna nosso dia e que só vai embora quando enfim aparece de novo, uma mancha perfeitamente construída de mobilidade não mensurável, de peso cálido nos pescoços com bordas preenchidas de gordura antiga que sujam apenas travesseiros tecidos manualmente e sem muito vigor por alguma preta velha – pobre, preta; sob o anonimato que qualquer canto da cidade oferece, quatro baratas se aglomeram, descompromissadas com a formalidade que a reunião prescinde e, por um tipo de inter-percepção, nada se cobram.