Contos, crônicas e novelas.

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sexta-feira, março 31, 2006

Diálogos do fim do mundo

-O Palocci caiu?!
-Palocci... aquele do seriado infantil "Barney e seus amigos"? Ele caiu e machucou o joelho. Acho que vão precisar do Tio Ted pra arrumar isso aí, companheirinho
-Esse é o Daniel Cohn-Bendit, estúpido.
(silêncio)
-Por que, em uma conversa nonsense, um interlocutor sempre tenta impor sua 'agenda' ao outro? Por que um lado sempre tenta ter o controle sobre a maluquice? "Manhê, eu sou o nonsense, não o Mauricio. Fala pra ele parar?". Pode ser que, superficialmente, um lado acredite que uma conversa de surdos (uma conversa nonsense) deva, ora pois, ser uma conversa de surdos - assim, um sempre tem de falar algo que em nada se relaciona com a fala anterior do outro. Essa pode ser uma explicação, não? A ilusão da confusão entre forma e vontade.
(silêncio)
-Mas ainda acho que seja uma ilusão.
-João...
-Para mim, o primeiro sentido do alheiamento às agendas exteriores em uma interlocução nonsense - especialmente se escrita, se feita em programas de comunicação instantânea - tendem mais a refletir uma necessidade de auto-congratulação como um "ser especial, pois não liga para as regras, mesmo as dominando". Talvez essa seja mesma a origem da "vontade nonsense", claro.
-João...
-Dizia: "mesmo as dominando - esse primeiro sentido é o verdadeiro - ou ao menos o primordial"
-João...
-Não disse? Eu argumento para as nuvens e você chama meu nome. Isso é um diálogo nonsense. Posso lhe dar os parabéns?
-Chupa o meu dedão, João.
-Está ficando melhor. Continue chamando meu nome e fazendo ilações homoeróticas, vai dar um tom imoral e asséptico à coisa: você querendo algo carnal e eu simplesmente falando coisas que pretendo serem lógicas.
(silêncio)
-A coisa talvez seja: como duas possibilidades de causa podem coexistir? Qual porcentagem que cada uma ganha? Que diabos de lógica as domina?
-Suellen...
-Vou tentar entender o que está agindo sobre você para que possamos chafurdar um pouco mais na coisa. Você começou uma conversa pop-nonse sobre política e jornalismo (Palocci, um homem público. "Caiu", jargão da imprensa. A própria dúvida se o fato aconteceu ou não). O absurdo da coisa tem várias camadas: 1 - todos sabemos que ele caiu: você me conhece, eu te conheço, nós sabemos que nós sabíamos.
-Não, Suellen.
-Essa é a primeira graça: uma pergunta que tem, implícita, uma gozação com a resposta. Ela come etapas e retira seu próprio significado como pergunta. A pergunta, haha, não existe. Algo assim. O absurdo número 2, logo, está no fato de que mesmo existindo, a graça da coisa se relaciona a inexistência, sei lá, semântica da coisa.
-Yago, não inventa...
-Bem, dada a sua pergunta com no mínimo 2 níveis de absurdo eu respeito o nível 1 e não dou uma resposta. Entro na brincadeira. Faço uma citação ultra-pop sobre um desenho animado, o relaciono com uma figura importante. Isso tem muito mais de anárquico e iconoclasta (eu também detesto essa palavra, calma) do que de absurdo. É como em um xadrez: uma vez que o absurdo está proposto, nada mais posso fazer. Qualquer coisa que eu digo vai ser absurdo, uma vez que nada vai responder à sua pergunta. Você está com as peças brancas - mas porquê quis.
-Não, Viktor...
-OK, lá vão o Barney e o Palocci. Eles estão juntos na imagem que criei. Tem até um certo "Tio Ted", que me pareceu algo americano e infantil (assim como um joelho machucado). A idéia que o Tio Ted poderia arrumar seu joelho é a um tempo pervertido (corpos infantis nunca combinam com corpos adultos não-familiares, ahn?) e aberto: isso teria a ver com o Mantega? Assim: algo pode ser restaurado no PT?
-Isso, Geraldo. Isso.
-A coisa, claro, não se fecha - veja bem, nessa altura, nem sabíamos o que estávamos fazendo. A problemática do PT também assume importância quando falo "companheirinho". É infantil, combina com o Barney. Mas combina muito mesmo com o Palocci. A coisa é que você tentou ser absurdo, existencialmente absurdo. Eu fui mais simplório: basicamente fui irônico, deslocando sentidos. Daí você entrou de novo no meu jogo - mas com um novo personagem, o tal Daniel Cohn-Bendit, que, de fato, não tenho a minima ideia de quem seja. Mas você entrou no meu jogo de sola - me desautorizando, como que dizendo "hey, eu estou com as peças brancas, eu sou o dono do absurdo. Você viajou, eu sei de que universo estamos falando. Eu dou as regras por aqui". Primeiramente, achei que esse seu movimento tinha a ver com o fato de que eu estava quebrando o seu tal "absurdo existencial" (aquele que se refere à pergunta, que nega o próprio 'ente' semântico, lembra?), mas depois pensei: "hey, ele simplesmente quer falar. Isso nao é um diálogo e ele só intui que algo se partiu, ele não sabe de fato o que se partiu". Assim, o quê fazer? Melhor eu esmiuçar essa questão, porqque até então eu também estava só intuindo as coisas. E agora surgem outras intuições. Por que você não quis brincar de análise comigo? Por quê? Aliás, você é um cara que adora o nonsense. Pô, eu também. Mas a sua adoração...digna de análise.
-Feliz Natal pra todos, Feliz Natal...
-Pra você tb, Tio Ted. Remeter-me-ei ao Barney, para comunicar suas congratulações.
-Os amantes da guerra que conheci em guerras reais eram geralmente inofensivos, exceto para si próprios. Eles eram atraídos para o Vietnã e o Cambodja, onde as drogas eram abundantes. A Bósnia, com a sua roleta da morte, era outro favorito.Uns poucos diriam que estavam ali "para perceber o mundo", os honestos diriam que amavam a guerra. Um deles havia tatuado no braço: "A guerra é divertida!" Postou-se sobre uma mina terrestre.
-E a essa, Tio Ted? Feliz Natal para ele também? Acho que ele merece é um bom rolê em cima de um V2.