Contos, crônicas e novelas.

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terça-feira, agosto 28, 2007

Breve peça estilística cuja história é difícil de discernir

A cara é comprida - procuram-se maxilares e vêm bocas, narizes e longos olhos azuis que transbordam vapor quando o animal começa. Foi um rompido do lado de lá do portal de metal retorcido. Estilhaça a estrada, seus cantos em raspadas contínuas e penetrantes e chega, oco, opulento descarregar esférico denso rodopiando em curtas curvas. O cão arrepia-se pouco antes de explodir em direção contrária e incerta. Tem pêlos grossos que armam vôo para trás, uma teia presa ao dorso que rasga o elétrico à sua volta. Ele foge. O que deixa continua a rugir e a querer saber qual o próximo espaço a ser ocupado. Mesmo ao ir embora, não há garantias de que a surpresa desconheça seus pequenos destinos. Esconde-se em negativos contruídos e pesquisa ares de plástico, cera e borracha. Há cinzas por toda parte que forram todas as partes, sobre elas crescendo. Mesmo nas construções, mesmo no ar aditivado. As patas se batem e as abas pendem antes dele ver-se encaixotado contra o que das paredes brotou: peças antigas de instrumentos inutilizados, manchadas, prateadas (paralamas, aros, espelhos, placas) . Faróis de centenas de brechas para ali direcionam-se e cada lâmina brilha e dança em pinceladas que em profundos vapores desvanecem.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Imagem x-x

Num canto da cidade, sob chuva fina, luzes estourando sem muita lógica, sombras cambaleantes, ronronares cadenciados e nervosos de gente simplesmente indo, enormes pés inchados dentro de sapatos gastos, sob um burburinho – uma camada - de homens de chapéus engraçados reclamando do passado e de mulheres apertadas em tendências meeiras, risos rarefeitos ecoando crianças que não vão aparecer tão cedo, sob a incapacidade de olhar além da reta e daquela coisa que vai sem vir e que continua raspando a garganta nos momentos mais impróprios (tão comum quanto própria ou inconsolável), sob aquela outra coisa que passa pelo canto da órbita, que impregna nosso dia e que só vai embora quando enfim aparece de novo, uma mancha perfeitamente construída de mobilidade não mensurável, de peso cálido nos pescoços com bordas preenchidas de gordura antiga que sujam apenas travesseiros tecidos manualmente e sem muito vigor por alguma preta velha – pobre, preta; sob o anonimato que qualquer canto da cidade oferece, quatro baratas se aglomeram, descompromissadas com a formalidade que a reunião prescinde e, por um tipo de inter-percepção, nada se cobram.